“Há” — verbo original.

Ano: 2025

Técnica: Sublimação, acrílica e folha de ouro sobre papel e sobre vidro

Dimensões: 33 x 33 cm 

Partindo de uma gravura do século XIX — um recorte sutil do gesto criador —, esta obra propõe um reencontro com o instante primeiro. A imagem, inspirada na força gráfica de Gustave Doré, é aqui atravessada por camadas de tempo e linguagem. No centro da composição, a palavra se fragmenta e se expande: há, há, há, há — um eco inaugural que escapa da moldura, como se a própria criação se desdobrasse para além dos limites.

O letrismo, nesta obra, não apenas ilustra, mas pulsa. Ele inaugura ritmos visuais, projeta sentidos, desenha caminhos sobre o suporte em papel. A palavra se torna forma, som mudo que reverbera luz. Uma luz que começa tênue e se intensifica, deslocando-se em movimento ascendente.

A intervenção com folha de ouro — aplicada sobre o vidro e a madeira da moldura — atua como um halo, um campo sutil que circunda e envolve, sem se impor. É presença, não figura. A gravura monocromática se contrapõe ao amarelo vibrante da palavra “verbo”, que emerge como um sopro de calor sobre o silêncio da imagem.

“Há” não fala de um tempo religioso, mas de um tempo mítico, essencial. É o gesto de nomear, de fazer existir, de transformar o invisível em visível — onde imagem e palavra se entrelaçam como em uma partitura.