Minha poética é fortemente influenciada pela obra de Cy Twombly que foi objeto do meu mestrado, cuja tensão entre o acaso e o controle, e entre a abstração e a figuração, é algo que me atrai profundamente. Em meu trabalho, essas tensões também são exploradas, permitindo que o inesperado se torne um elemento expressivo. A falha, o erro aparente, como no uso proposital do stencil falhado, introduz um diálogo entre o controle da técnica e a liberdade do imprevisto, oferecendo uma profundidade visual que ultrapassa a superfície.

Essa exploração do acaso é intensificada pelo uso de múltiplas camadas de diferentes mídias, onde o acrílico e o óleo se encontram em uma veladura que revela a camada subjacente. A sobreposição de camadas não apenas cria uma textura visual rica, mas também instiga um diálogo entre o que está visível e o que está oculto, algo que enriquece a experiência de quem observa. Recentemente, tenho expandido essa investigação para além da tela, trabalhando com a interferência no vidro que emoldura a obra, permitindo que as camadas continuem a dialogar com a realidade física do espectador. Assim, o trabalho transcende os limites do quadro e questiona a própria relação entre obra e espaço.

Outro aspecto essencial da minha poética é a presença da palavra na imagem. No entanto, a palavra em minhas obras não tem o propósito de simplesmente descrever ou nomear. Ao contrário, ela funciona como um elemento visual que cria tensões, provocações e, muitas vezes, não estabelece uma relação óbvia com a imagem. Assim como em Cy Twombly, a palavra pode abrir mundos dentro da abstração, sugerindo novas interpretações e desafiando o olhar do espectador a conectar manchas, formas e signos a partir de um estímulo verbal. É uma provocação que pede reflexão e introspecção, levando a obra a um patamar conceitual mais amplo.

Essa dualidade entre o acaso e o controle, entre a imagem e a palavra, permeia todo o meu processo criativo. A cada novo trabalho, busco aprofundar essa investigação, permitindo que as tensões inerentes ao ato de criar se revelem, transformando o erro em potência e a palavra em porta para novos universos de significados. A sobreposição de materiais, as camadas que se formam e se dissolvem, a palavra que ecoa na abstração – todos esses elementos formam uma poética que convida o espectador a se perder no fluxo e a encontrar suas próprias interpretações no caos organizado que a arte propõe.